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Biossegurança e Bioproteção: conceitos, princípios e o papel da CTBio-Fiocruz

14/03/2022
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A biossegurança é, segundo a Anvisa, a condição de segurança alcançada por um conjunto de ações para prevenir, controlar, reduzir ou eliminar riscos inerentes a atividades que possam comprometer a saúde humana, animal e o meio ambiente.
A literatura especializada (Teixeira & Valle, Biossegurança: uma abordagem multidisciplinar) reforça o caráter transversal: trata-se do conjunto de ações de prevenção, minimização ou eliminação de riscos nas atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, buscando proteger pessoas, animais, o ambiente e garantir a qualidade dos resultados.

Em síntese: qualquer procedimento científico precisa ser seguro — para quem o realiza, para quem dele se beneficia e para o ecossistema que o circunda.


Conceitos centrais e princípios

  • Avaliação de risco contínua: identificar perigos, estimar probabilidade e severidade, classificar o risco e definir barreiras.
  • Hierarquia de controles: medidas eliminatórias ou de substituiçãoengenharia (barreiras físicas, cabines) → administrativas (SOPs, treinamentos) → EPI (proteção individual).
  • Boas práticas laboratoriais (BPL): padronização de protocolos, rastreabilidade, qualificação de equipamentos e registros.
  • Cultura de segurança: reporte de incidentes/quase-incidentes, aprendizado organizacional e melhoria contínua.

Escopos e aplicações

A biossegurança permeia:

  • Laboratórios (microbiologia, biologia molecular, cultura celular, diagnóstico).
  • Biotérios (cuidados com animais de experimentação).
  • Unidades hospitalares (manejo de amostras, procedimentos invasivos).
  • Grande escala industrial (produção biotecnológica, vacinas, hemoderivados).
  • Ensino e P&D com Organismos Geneticamente Modificados (OGM) e outros agentes de risco.

Níveis de biossegurança (NB1–NB4)

  • NB1: agentes de risco mínimo; ensino básico; boas práticas e EPI padrão.
  • NB2: patógenos moderados; cabine de segurança biológica para aerossóis; gerenciamento de resíduos.
  • NB3: agentes com transmissão por aerossóis e doença grave; barreiras primárias e secundárias robustas, acesso controlado, pressão negativa.
  • NB4: agentes de alto risco, sem tratamento/vacina; máxima contenção, sistemas dedicados e protocolos de emergência especializados.

Bioproteção (biosecurity) x Biossegurança (biosafety)

  • Biossegurança: foco na proteção contra acidentes/exposições não intencionais.
  • Bioproteção: foco em prevenção de uso indevido/intencional de materiais, informações e tecnologias biológicas (controle de acesso, inventário, cadeia de custódia, confidencialidade).
    Ambas são complementares e compõem um sistema integrado de governança do risco biológico.

O papel da CTBio-Fiocruz

A Fiocruz instituiu a Comissão Técnica de Biossegurança e Bioproteção (CTBio-Fiocruz), vinculada à Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas, para formular, revisar e harmonizar a política institucional de Biossegurança e Bioproteção nos âmbitos laboratorial, animal, vegetal, de grande escala e hospitalar.

Atribuições estratégicas da CTBio incluem:

  • Diretrizes para construção, cultivo, produção, manipulação, armazenamento, transporte, comercialização e descarte em atividades de pesquisa, ensino, desenvolvimento tecnológico, produção e controle de qualidade envolvendo agentes biológicos de risco, inclusive OGM e derivados.
  • **Assistência às Comissões Internas de Biossegurança (CIBios)**das unidades da Fiocruz — que integram a Rede Nacional de Biossegurança — para cumprimento da legislação e gestão de riscos.
  • Harmonização de práticas, protocolos e documentos; capacitação contínua em biossegurança e bioproteção.
  • Manutenção dos Certificados de Qualidade em Biossegurança (CQB), suporte à fiscalização de projetos com OGM e demais agentes de risco e compartilhamento de experiências institucionais.

Resultado: padronização e conformidade regulatória, com qualidade de dados e segurança operacional desde a bancada até a escala industrial e hospitalar.


Ciclo prático de gestão de risco biológico

  1. Identificar perigos (agente, via de exposição, manipulação, escala).
  2. Avaliar risco (probabilidade × impacto; considerar suscetibilidade e ambiente).
  3. Definir controles (engenharia, administrativas, EPI; validação de cabines/HEPA).
  4. Treinar e qualificar equipes (competência mínima, revalidação periódica).
  5. Monitorar e registrar (indicadores, auditorias internas, tratativa de não conformidades).
  6. Responder a incidentes (planos de emergência, comunicação e investigação de causa-raiz).
  7. Melhorar continuamente (lições aprendidas, revisão de SOPs e investimentos).

Boas práticas essenciais (checklist)

  • Análise de risco documentada por atividade/protocolo.
  • SOPs atualizados e acessíveis; etiquetagem e segregação adequadas.
  • Cabines certificadas e fluxo de ar verificado periodicamente.
  • Gestão de resíduos (inativação, transporte, destino final) conforme norma.
  • Inventário de cepas/OGM e controle de acesso (bioproteção).
  • EPI/EPC corretos e treinamento registrado.
  • Plano de contingência e simulações de emergência.

Conclusão

Biossegurança e bioproteção não são apenas requisitos legais: são fundamentos da qualidade científica e da responsabilidade socioambiental. Ao integrar avaliação de risco, contenção, treinamento e governança, e ao harmonizar práticas por meio de estruturas como a CTBio-Fiocruz e as CIBios, instituições protegem pessoas, animais e o ambiente — e elevam a confiabilidade dos resultados.

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