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O papel da nutrição na saúde mental: evidências, nutrientes-chave e como colocar no prato

13/09/2022
Saúde mentalNutriçãoDepressãoPolifenóisDieta MIND

A saúde mental, segundo a OPAS, é um estado de bem-estar em que a pessoa reconhece suas habilidades, lida com as tensões comuns da vida, trabalha de forma produtiva e contribui para a comunidade.
Os transtornos mentais, com destaque para a depressão, representam um desafio de saúde pública e econômico crescente. Apesar de avanços, os tratamentos convencionais têm resposta limitada em parte dos casos e recorrência elevada — o que torna estratégica a atuação em fatores de risco modificáveis, entre eles a alimentação.

Ideia-chave: o que comemos não substitui o tratamento, mas pode prevenir, atenuar sintomas e potencializar intervenções psicoterápicas e farmacológicas.


Como a dieta conversa com o cérebro

  • Inflamação sistêmica: padrões alimentares pró-inflamatórios (ultraprocessados, excesso de açúcares livres e gorduras de baixa qualidade) associam-se a piores desfechos de humor.
  • Deficiências nutricionais: B12 (cobalamina), ferro (atenção a vegetarianos sem ajuste), zinco e proteína insuficientes podem agravar sintomas.
  • Nutrientes neuroprotetores: carotenoides, magnésio, selênio, vitaminas A, C e do complexo B, além de ômega-3 (EPA/DHA), dão suporte a neurotransmissão, plasticidade e controle de estresse oxidativo.

AFS — Antidepressive Food Score: o que mais pontua?

Uma revisão sistemática (LaChance & Ramsey) analisou 34 nutrientes e criou o AFS, um escore que ranqueia alimentos com maior potencial antidepressivo. 12 nutrientes se destacaram:
EPA/DHA (ômega-3), ferro, magnésio, potássio, selênio, zinco, vitaminas do complexo B, A e C.

Top fontes no AFS incluem:

  • Ostras e mexilhões, peixes e frutos do mar, carnes (fontes densas de B12/ferro/zinco);
  • Folhas verdes (ex.: alface, couve), pimentões e crucíferos (brócolis, couve-flor).

Apesar do peso de alimentos de origem animal no ranking, o padrão protetor é majoritariamente vegetal: hortaliças, frutas, legumes, grãos integrais, nozes, castanhas e sementes representaram ~86% das principais fontes no escore.


Dieta MIND x Mediterrânea: o que os dados sugerem

A dieta MIND combina princípios da DASH e da mediterrânea, enfatizando:

  • Grãos integrais (≥3 porções/dia), saladas e outro vegetal ao dia;
  • Frutas vermelhas 2×/sem; oleaginosas frequentes; leguminosas quase diárias;
  • Peixe ≥1×/sem; aves com regularidade; lácteos gordurosos, frituras e fast food: pouco; manteiga: <1 c.s./dia.

Em coortes, maior adesão à mediterrânea mostrou redução significativa do risco de depressão; a MIND aponta tendência benéfica (nem sempre estatisticamente significativa), com destaque para o consumo de castanhas. Mensagem prática: subir da baixa para a adesão moderada já ajuda.


Polifenóis: bioativos que somam

Polifenóis (flavonoides, ácidos fenólicos, stilbenos, lignanas) exibem ações antioxidantes e anti-inflamatórias e vêm sendo estudados como adjuvantes no humor. Meta-análises indicam melhora de escores de depressão com suplementação — com isoflavonas se destacando — especialmente em doses <300 mg por ≥3 meses.

Preferência sempre para alimentos fonte: café, chás, cacau amargo, frutas vermelhas/arroxeadas (açaí, uva, amora), frutas cítricas, ervas e azeite extra virgem.


Brasil: quando a renda define o prato (e o humor)

Estudos nacionais mostram que a ingestão de bioativos varia com a renda. No Brasil, café é a principal fonte de polifenóis em todos os estratos; suco de laranja lidera flavonoides.
Conclusão: desigualdade de acesso a alimentos in natura e minimamente processados pode piorar a qualidade da dieta e aumentar o risco de transtornos mentais. Políticas públicas e estratégias de baixo custo são parte da solução.


Guia prático: do mercado ao prato

Princípios (o que fazer todos os dias)

  • Plante o prato: ½ do prato de vegetais variados (folhas + coloridos);
  • Proteína de qualidade: peixe 1–2×/sem, ovos, aves, leguminosas (feijões, lentilha, grão-de-bico);
  • Gorduras boas: azeite extra virgem no cozimento/finalização; nozes/castanhas (1 punhado/dia);
  • Grãos integrais: arroz integral, aveia, pão 100% integral;
  • Fermentados (quando possível): iogurte natural, kefir.

Nutrientes-alvo & fontes acessíveis

  • B12: ovos, lácteos, carnes; vegetarianos devem monitorar/ suplementar com profissional.
  • Ferro: feijões + vitamina C (feijão com laranja/limão) melhora absorção; carnes e vísceras são fontes densas.
  • Magnésio: folhas verdes, aveia, amendoim, caju.
  • Selênio: castanha-do-Brasil (1–2 unidades/dia já cobre a meta).
  • Zinco: feijões, carnes, sementes (abóbora).
  • Ômega-3: sardinha, atum, anchova; opção vegetal: linhaça, chia, nozes (ALA).

Polifenóis no dia a dia (baixo custo)

  • Café coado (sem excesso de açúcar);
  • Chá-preto ou verde;
  • Cacau 70%+ em pequenas porções;
  • Frutas sazonais e casca/coloridos (quanto mais cores, melhor).

Exemplo de menu MIND-inspirado (3 dias)

Dia 1

  • Café da manhã: Aveia com iogurte natural, morangos, linhaça e canela.
  • Almoço: Arroz integral, feijão preto, sardinha grelhada, salada (folhas, pimentão, cenoura) + azeite.
  • Lanche: Um punhado de castanhas/nozes + fruta cítrica.
  • Jantar: Omelete com espinafre e brócolis + salada de tomate.

Dia 2

  • Café: Pão 100% integral com pasta de grão-de-bico, uva roxa.
  • Almoço: Frango assado, batata-doce, couve refogada; salada verde.
  • Lanche: Iogurte natural com cacau 100% e banana.
  • Jantar: Lentilha cozida com legumes + salada de repolho colorido.

Dia 3

  • Café: Smoothie de kefir com amora e aveia.
  • Almoço: Atum em azeite, arroz integral, feijão carioca, salada de rúcula e laranja.
  • Lanche: Chá-preto e 1 quadrado de chocolate 70%.
  • Jantar: Legumes assados (abóbora, abobrinha, pimentão) + ovos mexidos.

Atenção: adapte por preferências, alergias, cultura e orçamento. Para vegetarianos/veganos, planejamento é essencial, especialmente para B12, ferro, zinco e ômega-3 (com acompanhamento profissional).


Perguntas frequentes (FAQ)

Posso tratar depressão só com dieta?
Não. Alimentação apoia e potencializa; diagnóstico e tratamento são médicos/psicológicos.

Suplemento ou comida?
Comida primeiro. Suplementos podem ser adjuvantes quando há deficiência ou objetivo específico, com orientação.

E álcool (ex.: taça de vinho da MIND)?
Se você não bebe, não comece por causa da dieta. Se bebe, moderação estrita; muitos se beneficiam do não uso.

Resultados em quanto tempo?
Alguns relatam melhor humor/energia em semanas, porém consistência por meses sustenta os ganhos.


Conclusão

Uma dieta rica em vegetais, variada, nutricionalmente densa e minimamente processada reduz riscos, amortece sintomas e favorece o bem-estar. Em paralelo a acompanhamento clínico, sono, atividade física, luz solar e laços sociais, a nutrição é pilar prático e acessível de cuidado em saúde mental.

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